Rendición de Nuria Vidal
A pintora Nuria Vidal realiza a exposição “Rendición” onde mostra a sua viagem artística desde a cor como forma de expressão à obra monocromática.
Rendición é um projeto da artista espanhola Nuria Vidal que reflete o ato da pintura, o momento de criar concebido como um estado ontológico; uma forma de estar ante um e ante a própria obra. A procura de um percurso até o sublime através da renúncia à intervenção, à representação e à cor. O momento e a situação em que a obra foi pintada circunscrevem-se à estadia da artista na ilha de Lanzarote.
Trata-se de um projeto pensado num instante de aguda tomada de consciência. Depois de andar submersa na cor como máxima expressão, com a obra pertencente a Rendición deu início uma viagem pessoal de introspeção e indagação através da obra monocromática. São 52 as pinturas desta metamorfose ou transfiguração, na qual o preto passará para o branco ou para a cor, e a forma para o plano ou para o vácuo. Trata-se de um conjunto de pinturas que a artista imagina como um ciclo, umas pinturas que ainda não fecham, nem sabe se chegarão a fechar, este processo de mudança leve e incessante que imagina como um itinerário circular, nas quais decide renunciar ao impecável para mostrar algo mais veemente.
Rendición reflete o ato da pintura, o momento de criar, embora, mais do que um momento, seja um estado; uma forma de estar diante de si mesmo e da obra. É a busca de um caminho rumo ao sublime através da renúncia à intervenção, à representação, à cor. Escolhi o papel como suporte, porque se entrega, tem memória, mantém a lembrança do que passou por ele. Trato o papel como “ser” recetivo: estabelece-se um diálogo entre o papel que aceita a matéria, a matéria em si e eu como mediadora no processo. Surge uma narrativa que tem a ver com o ânimo, com o sentir, com ver e deixar-se ver. A pintura converte-se em pintora, e a pintora em pintura. Assim, as pinturas, no ato inexplicável de serem pintadas –uma pulsão, mais do que um impulso– ocupam sucessivamente esse leito vazio. São pinturas sóbrias, pesadas e, por sua vez, leves, que partem do nada, de uma mancha muda. Aceitam o tempo, a borra, o escorrer. São sinceras, porque se sinceram perante a pintura. Sinceras, leves, sóbrias, talvez o sejam. Talvez não.
—Nuria Vidal
Nuria Vidal (Madrid 1967) é licenciada em Belas Artes, especialidade em gravura, pela Universidad Complutense de Madrid. O seu trabalho está presente em diferentes coleções de arte, desde a Comunidad de Madrid, Fundação Mapfre, Coleção Todisa e Prémio Ángel de Pintura do grupo Bertelsmann, Direção Geral da Mulher, Congresso dos Deputados de Espanha, Ministério de Negócios Estrangeiros de Espanha, Banco Santander ou a Universidade Carlos III.
Inauguração: 09 de outubro às 18h00