Reinar depois de morrer de Luis V. de Guevara
Depois do sucesso no Teatro Joaquim Benite de Almada, “Reinar depois de morrer” expõe os conflictos de interesses entre a História das nações e as paixões dos indivíduos no Porto.
A lendária e trágica história de amor de D. Pedro e D. Inês de Castro deu origem a uma rica linhagem artística ao longo dos tempos, não apenas portuguesa. Depois de Garcia de Resende (no Cancioneiro Geral, 1516), Camões (no Canto III de Os Lusíadas, 1572) e sobretudo António Ferreira (em Castro, 1587), o dramaturgo espanhol Luis Vélez de Guevara (1579-1644) glosou o tema em Reinar Depois de Morrer (1635), peça em três atos que a Companhia de Teatro de Almada recupera, numa adaptação de José Gabriel Antuñano e encenação de Ignacio García.
O texto de Guevara, uma das comedias mais representativas do chamado século de ouro do teatro espanhol, foi publicado em Portugal pela primeira vez em 1652. Com tonalidades intensamente líricas, a peça encena este famoso episódio histórico, no qual a razão de Estado –a que se poderia hoje chamar uma razão politicamente correta– se opõe e se sobrepõe ao amor e à liberdade individual.
Centrando-se na forma como essa oposição se agudiza nas quatro personagens principais, moldando as suas acções, dilemas e sofrimentos, Reinar Depois de Morrer convida o espectador a reflectir sobre um tema perene: “O da supremacia das conveniências sobre o indivíduo –sempre mais frágil– que as questiona.”