Mónica Valenciano e Angélica Lidell no Citemor 2018
O festival de teatro mais antigo de Portugal volta com sua 40ª edição e conta com a participação de duas grandes artistas espanhóis.
O Citemor volta a invadir Montemor-o-Velho com a sua programação eclética dirigida a diferentes públicos e a decorrer em vários espaços da vila. Teatro, dança, música, vídeo e instalações voltam a misturar-se num festival que aposta nas novas dramaturgias e nos novos criadores e que este ano é totalmente gratuito.
O Festival de Montemor-o-Velho é considerado o festival de teatro mais antigo do país, mas o Citemor é muito mais do que isso. Desde o início que, fugindo dos grandes centros urbanos, coloca a vila de Montemor-o-Velho no mapa das criações artísticas, revelando novas tendências e criadores nacionais e internacionais, numa mistura de linguagens que atravessam vários tipos de arte.
A fundação do Citemor atribui-se ao professor Paulo Quintela da Universidade de Coimbra, grande dinamizador da formação artística académica. As suas iniciativas, na década de 60, acabaram por dar origem ao que viria a ser a primeira edição oficial do Citemor, datada de 1974 e organizada pelo CITEC – Centro de Iniciação Teatral Esther de Carvalho, um grupo de teatro local.
As duas artistas espanholas que irão participar no Festival serão:
Mónica Valenciano: Imprenta acústica en (14 borrones de una) aparición
Sábado 28 Julho às 22h30.
Este encontro propõe-se, a partir de um mapa cartográfico, a transitar, viajando através de um leque de imagens –correspondência aberta, cartas de uma dança na formulação do seu próprio tecido. Entoações de um gesto, ritmos de um contacto, deslocações de uma ausência que joga. Corpografias de uma rede ao encontro dessa geografia que se abre em direção ao interior…Corpos de uma voz, ramificando-se em planos múltiplos. O espaço como protagonista vincula-nos no que deixa, a pele desse espaço que toca capaz de alojar um alvo inesperado, e ali onde o olhar nos convoca prende a sua visão: a baralhar, revelações orquestrais e a contratempo o alvo é um circo de olhos, começa no vazio. A pedrada é outono… cruzando o canto vindo de uma lágrima, dança, escuta a paragem marcando o ritmo do tempo. O medo desbota? Um ponto ladrando soa na saliva e, o testemunho passeando no fundo dos teus olhos.
Angélica Lidell: Cuaderno de trabajo
Quinta 9 Agosto às 22h30.
Tenho 50 anos e não sei ler nem escrever. Se corto um bocado do meu corpo e o deito numa panela de água a ferver, permanece cru. Nem consigo escutar com clareza, ouço apenas palavras soltas e estranhas. Tudo descamba uma e outra vez. O pior de tudo é que já não pode haver um título, nem um argumento, já não pode haver um início. Já não posso começar do início, de nenhuma maneira. Promete-me que não contas a ninguém. Vi uma serpente com a cabeça inchada. Mordeu-me no tornozelo e tive que matá-la. Quando tudo terminou e o bicho sangrava a meus pés dei-me conta de que a serpente era uma criança. Como os meus pais estão mortos, não tenho ninguém a quem pedir perdão. Guardo apenas dois frascos com cinzas. E, já que não posso ser perdoada, resta-me apenas o pobre recurso da expiação
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