Mão do Imperador

Manuel Olcina Doménech, director do Museu Arqueológico de Alicante, apresenta “mão do Imperador”, um fragmento de escultura romana monumental de bronze do Forum de Lucentum em Tossal de Manises, Alicante.

Localizado em 2005, durante a campanha de escavação, à frente do fórum romano da antiga cidade romana de Lucentum, em Tossal de Manises (La Albufereta, Alicante), o fragmento corresponde à mão esquerda e parte do antebraço de uma estátua de bronze, feita com a técnica de cera perdida, maior que o tamanho natural. Entre a palma da mão e os dedos, há um punho da espada chamado parazônio (um tipo de espada carregada pelo imperador, as altas posições do exército e divindades relacionadas às virtudes militares).

Este fragmento escultural apresenta detalhes que o diferenciam como unicum, ou seja, uma peça que apresenta elementos que não foram documentados até o momento. Em primeiro lugar, o botão da alça tem duas cabeças de águia voltadas para lados opostos, ou seja, bicéfala. Na iconografia greco-romana, o punho da espada coberto com a cabeça deste pássaro é conhecido, mas é a primeira vez que aparece em dobro. Em segundo lugar, existem espadas e mãos de bronze soltas, nunca nas quais os dois elementos estavam unidos, como em muitas estátuas de pedra. Essa circunstância nos permitiu propor para algumas esculturas de bronze que o objecto que ele levaria na mão (hoje vazio) seria uma espada, como pensávamos que ocorreria na famosa estátua de bronze de Marco Aurélio, encontrada nos Museus Capitolinos de Roma.

A partir da análise formal da peça e da comparação com outras estátuas romanas, especialmente o mármore, a estátua seria a de um imperador ou parente proeminente, vestido com um uniforme militar que pegaria a espada na mão esquerda. O tamanho que assumimos seria de cerca de 2’20 metros e estaria localizado em um dos pedestais do fórum Lucentum. Seria uma das imagens mais impressionantes que os cidadãos da antiga Alicante contemplariam ao visitar o espaço forense.

Não sabemos qual imperador ou parente representaria a estátua. O fragmento foi encontrado nos níveis destruidos do fórum, no século III D.C. Pensamos que, dada a história da cidade romana, cujo momento de esplendor ocorreu no primeiro século, seria nesse período que a instalação da escultura seria vista.