Luis Vélez de Guevara: Reinar depois de morrer
Reinar depois de morrer, levada à cena pela primeira vez em língua portuguesa, expõe os conflictos de interesses entre a História das nações e as paixões dos indivíduos.
A figura de Inês de Castro, personagem histórica e literária, e a lenda em torno da sua pessoa, é um dos temas mais revisitados na literatura peninsular. Os amores impossíveis entre Inês e D. Pedro de Portugal deram forma a lendas, romances e dramas, até que Luis Vélez de Guevara (Écija, Espanha, 1578-1644) escreve a sua obra magistral Reinar depois de morrer, publicada pela primeira vez em Lisboa em 1652.
Nesta tragédia, os amores entre Inês e Pedro encontram a oposição do rei, D. Afonso de Portugal, que obriga o seu filho a casar-se com D. Blanca de Navarra. A desobediência a este desígnio acarretaria a ruptura das relações entre Portugal e Navarra.
Confluem na obra de Vélez dois temas em oposição: o dever de Estado e os ditames do coração, que originam conflitos abundantes entre as personagens numa progressiva tensão dramática.
Para além do interesse histórico, o carácter evocativo e a qualidade teatral, Reinar depois de morrer é hoje uma tragédia contemporânea, que coloca ao espectador perguntas sobre a liberdade individual e os limites perante os ditames dos poderes públicos que invadem a esfera privada, pertença exclusiva do indivíduo.
O encenador Ignacio García (n. 1977), distinguido já com vários prémios, é programador do Festival Dramafest (dedicado à dramaturgia contemporânea, que tem lugar na Cidade do México) e director do Festival Internacional de Teatro Clásico de Almagro. Grande divulgador do reportório do chamado Século de Ouro, divide-se entre os textos clássicos e os contemporâneos. José Gabriel López Antuñano (n. 1949), professor de Dramaturgia e Ciências Teatrais e autor de obras de pensamento sobre teatro, já realizou várias adaptações de textos dramáticos, entre os quais Enrique VIII y la Cisma de Inglaterra, de Calderón de la Barca, ou A história do cerco de Lisboa, de José Saramago, estreada no Festival de Almada em 2017.