Isaki Lacuesta na Solar – Galeria de Arte Cinemática
A galeria organiza uma exposição sobre o cineasta espanhol Isaki Lacuesta paralela à retrospectiva sobre o realizador que tem lugar no Festival Curtas Vila do Conde.
A Solar – Galeria de Arte Cinemática é, por definição, um espaço de experimentação num campo artístico que se situa entre as artes-plásticas e o cinema, onde, precisamente, se prolongam e reinventam. É neste território que nos encontramos e ao qual regressamos todos os anos, em particular nas exposições que se inauguram sincronamente com o Curtas Vila do Conde. A oportunidade não seria de desperdiçar, até porque o afluxo de público se intensifica, mas, sobretudo, porque se torna possível imaginar uma programação mais completa, articulando a exposição na galeria, com a exibição de um programa paralelo de filmes.
Ultrapassadas algumas das incertezas, resultado do trabalho consequente e resiliente, o regresso tornou-se de novo possível e, curiosamente, tal como refere Jordi Costa, a uma espécie de alquimia, à interseção entre a ciência e à feitiçaria, explorando vários aspetos da vasta e diversificada obra de Isaki Lacuesta. A exposição O Caso Caligari, que abriu ao mesmo tempo que o Curtas do ano passado, fazia também reverência ao expressionismo alemão, como de certa forma o faz este mais antigo dos realizadores contemporâneos.
O percurso expositivo estabelece relações diferenciadas entre as obras, de períodos distintos, com início nas primeiras curtas-metragens que aqui encontram uma outra dimensão, de convívio mais direto e intimista com o público, passando por um projeto mais direcionado à projeção multicanal, portanto, específico para o espaço de galeria, culminando nas obras mais recentes, nos quais a interseção com a música é dominante, enquanto peças realizadas para canções. Isaki Lacuesta trabalha muitas vezes em parceria com Isa Campo e em conjunto com diversos artistas de áreas distintas, que emprestam às suas obras um caráter propositadamente ambíguo, assumindo a metamorfose do processo criativo como um processo em si, chamando à equipa de rodagem, por exemplo, uma realizadora de cinema experimental como Adriana Vila Guevara, mas também a cantora Silvia Pérez Cruz, a bailarina e coreógrafa Rocío Molina ou a atriz Alba Flores. Realce, também por isso, para as peças inéditas, recém-concluídas e cuja rodagem foi realizada durante a preparação para montagem da exposição, culminando o seu percurso.
Paralelamente, o Curtas Vila do Conde exibe quatro das suas longas-metragens, cujo percurso e premiações atestam a sua qualidade, dialogando com o conjunto de obras expostas.
Isaki Lacuesta
Isaki Lacuesta (1975, Girona) escreveu e realizou nove longas-metragens, a última das quais Entre dos aguas foi a sua segunda Concha de Ouro no Festival Internacional de Cinema de San Sebastian e os prémios de Melhor Filme e Melhor Ator no Mar del Plata Film Festival, bem como sete Prémios Gaudí, incluindo Melhor Filme e Melhor Realizador de Língua Não Catalã.
Em 2018, o Centro Georges Pompidou, em Paris, dedicou uma retrospetiva completa à sua obra, e publicou o livro Le cinéma d’Isaki Lacuesta (Brice Castanon e Sergi Ramos, ed).
Outras retrospetivas completas da sua filmografia foram realizadas na National Gallery em Washington (2013, Lacuesta: the artist’s ruse), a Cinemateca Suíça (2017), a Filmoteca Española (2018) e a Filmoteca da Catalunha (2019), bem como em Itália (Festival dei Poppoli 2012, Florença), França (Festival de Toulouse 2012), Alemanha (Festival de T’bingen 2012), Colômbia (Cali International Film Festival 2010), Espanha (Canary Mediafest 2010, Âmbitos Cádiz 2012). Os seus filmes foram exibidos em festivais de todo o mundo e em centros de arte como a MOMA em Nova Iorque, o Lincoln Center, o Anthology Film Archives (Nova Iorque), o CCCB (Barcelona).
Entre outros prémios pela sua carreira, recebeu o Prémio Nacional de Cinematografia da Generalitat da Catalunha (2012), o Prémio Sant Jordi (2002, 2017), o Prémio Eloy da Igreja (2010, Festival de Málaga).
Foi curador do pavellón catalão da Bienal de Arquitetura de Veneza 2016 (Aftermath: architecture beyond architects, com Jaume Prat e Jelena Prokopljevic), fez várias instalações para exposições (Les images écho e Les films doubles para o Centre Georges Pompidou, Your phone is a cop com Refree para Fabra i Coats Barcelona, La tercera cara de la lluna para Bolit Girona, colaborou com arquitetos (RCR, Pritzker Prize 2017), pintores (Miquel Barceló, Frederic Amat, Antoni Tàpies), músicos (Refree, Albert Pla, Pau Riba) e outros cineastas: a sua correspondência cinematográfica com a cineasta japonesa Naomi Kawase, In between days (2009, CCCB) foi apresentada no Festival de Cinema de Locarno.