Exposição / Performance: Roi Soleil
Albert Serra combina performance, imagens e objetos numa exposição na Galeria Graça Brandão.
A estreia comercial de A Morte de Luís XIV é o ponto de partida para o evento Roi Soleil, Lisboa, Janeiro de 2017, apresentado pela Rosa Filmes. À volta deste acontecimento, decorre a inauguração de uma exposição/performance na Galeria Graça Brandão (com Lluís Serrat no lugar de Jean-Pierre Léaud no lugar de Luís XIV) intitulada Roi Soleil, o Ciclo Jean-Pierre Léaud na Cinemateca, a Retrospetiva das Instalações de Albert Serra [entre as quais Singularity, Bienal de Veneza, e Els Tres Porquets, dOCUMENTA de Kassel] no Palácio Pombal, e o Ciclo Albert Serra na Cinemateca, com uma Carta Branca ao autor.
A Morte de Luís XIV, de Albert Serra, grande acontecimento artístico do último Festival de Cannes, ponto culminante da carreira de Jean-Pierre Léaud, Palma de Ouro para uma carreira que se confunde com a história do cinema europeu moderno e agora, também, com a história da Europa.
Jean-Pierre Léaud é Luís XIV, o Rei Sol, nos últimos dias do seu reinado. Nem mesmo o poder absoluto do homem que foi o Estado, a França e o próprio Sol, escapa à condição mortal de toda a humanidade. O tempo do ator coincide com o tempo do que representa. O que ele vê, o que ele vive, é o que vêem os que o rodeiam e o que vêem os espectadores. A representação tem o realismo de um documentário sobre isso mesmo que todos nós vemos e um dia viveremos. É o realismo imanente dos corpos filmados por Serra.
A mise-en-scène dos corpos no tempo real da filmagem, a austeridade luminosa da composição,a teatralização do espaço na organização ritual da direção cinematográfica. A mestria do autor, cineasta, Albert Serra, consiste em ser ele próprio Luís XIV,Léaud, Lluís Serrat assim nos concedendo, a todos, a majestade sobre-humana e a inapelável vulnerabilidade próprias de um artista.
Talvez tenha chegado o momento em que passamos da “Política dos Autores” para a “Política dos Artistas”. Os filmes, instalações ou performances, ao vivo ou na tela, concebidas e dirigidas por Albert Serra, conjugam a convocação da presença dos seus atores, o exercício da noção política de poder, o impulso irremediavelmente humano para acompanhar a passagem do tempo. O cinema, talvez por ter já morrido tantas vezes, oferece hoje ao conjunto das práticas artísticas contemporâneas uma nova dimensão criativa que ainda não encontrou definição.