Doclisboa 2024: Da Terra à Lua
“Diarios del exilio” e “Memorias de ultramar” analisam a história espanhola por meio de filmes de arquivo de refugiados e famílias coloniais, enquanto a seção “Da Terra à Lua” do “Doclisboa” investiga a interseção entre cinema, política e memória coletiva em diferentes contextos.
Diarios del exilio
- De Irene Gutiérrez, Espanha, 2019, 43 minutos.
- 500 000 mil espanhóis fugiram após a Guerra Civil Espanhola acabar com a vitória do General Francisco Franco em 1939. O êxodo de refugiados começou ainda mais cedo em algumas regiões republicanas nortenhas. Diarios del exilio recorre a filmes em 8mm de vários arquivos para ilustrar essa fuga em massa. Filmes caseiros anónimos alternam com material de arquivo de aparições públicas de dirigentes políticos como Dolores Ibárruri, o comunista basco que cunhou o famoso mote ¡No pasarán! durante a batalha por Madrid.
Memorias de ultramar
- De Carmen Bellas, Alberto Berzosa, Espanha, 2021, 49 minutos.
- Memorias de ultramar constrói-se em torno de filmagens feitas por famílias que viviam nas colónias, províncias e territórios sob domínio espanhol entre 1940 e 1975. Uma parada de instantâneos comuns a quem se muda para um país diferente e começa um novo lar. Continua-se a virar estas páginas de um álbum de recortes, mas, em alguns momentos, a projecção pára, o montador rebobina, aproxima a imagem, foca e procura ecos que estejam fora deste tesouro de lembranças e memórias de família.
Da Terra à Lua
Da Terra à Lua é uma seção do Doclisboa dedicada ao cinema que observa e questiona. Ela busca articular temporalidades e narrativas aparentemente desconectadas, permitindo-nos explorar nossa humanidade. Os filmes apresentam figuras que refletem as contradições dos nossos espaços políticos e contam a história do presente, como Der Soldat Monika, Henry Fonda for President e Lula, de Oliver Stone. Além disso, há obras que oferecem espaços e vozes coletivas para o testemunho e a rearticulação da história, como Dahomey, Voices of the Silenced, A Queda do Céu, Por ti, Portugal, eu juro! e *Les mots qu’elles eurent un jour. Também são exploradas as paisagens do Oriente Médio, onde a relação entre cinema e violência nunca foi neutra, como em Mitahat le Shemesh Khula.
Revisitando Ici et ailleurs, de Anne Marie Melville e Jean-Luc Godard, e De Palestijnen, de Johan van der Keuken, destacamos a ideia de cinema como uma força viva do passado. Em destaque, a relação entre arte e poder é explorada na documenta 14, uma das mais importantes exposições de arte do mundo.
Da Terra à Lua é, assim, um olhar atento dos cineastas em relação com a realidade e outras ficções. É nesse olhar que se faz uma viagem por várias cartografias cinematográficas.