Curtas Vila do Conde 2020
O festival internacional de cinema volta a ocupar a cidade do norte litoral com um programa diversificado que cruzará o cinema, a música e as artes visuais, com a participação de produções espanholas.
Filmes, exposições, debates, concertos, masterclasses, workshops, videoteca… Em julho, Vila do Conde volta a ser ponto de encontro para os diversos agentes da indústria cinematográfica: programadores, jornalistas, realizadores, e claro, o grande público.
Neste ano tão invulgar, esta nunca poderia ser uma edição normal do Curtas. Pensar, programar e organizar um evento como um festival de cinema desta dimensão, um espaço de encontros, que celebra uma partilha comunitária de experiências e descobertas do cinema em sala e na galeria, tornou-se um enorme e exigente desafio, que obrigou a uma adaptação e a encontrar novas e inovadoras formas para o festival no seu aguardado encontro com o público. Uma das prioridades da edição de 2020 foi assegurar o cumprimento de todas as condições de segurança, de acordo com as normas definidas pela DGS, de forma a possibilitar um encontro seguro na sala de cinema.
Forastera
- 5 de outubro às 22h15.
- De Lucía Aleñar Iglesias, Espanha, 2020, 19 minutos.
“Forasteiros” – ou “forasters”, em maiorquino – é o termo utilizado pelos insulares para designar os espanhóis do continente que se deslocam a Maiorca. Antónia, que veio visitar a ilha do seu avô e a casa de família, fazendo jus à designação, parece viver fora do seu espaço e do tempo da sua adolescência. Um desfasamento que se acentua quando encontra - praticamente intocados - o quarto, os objetos e roupas da sua falecida avó. Lentamente, o seu corpo dilui-se no dela, tornando-se incerto se é a adolescente que a invoca ou se é a sua antepassada que a visita. Circulando pelo passado, presente e futuro, encontramos de forma nítida no filme as fisionomias de El espíritu de la colmena (1973) de Victor Erice, ou de Lucrecia Martel, em obras como La Ciénaga (2001). No entanto, Forastera não deixa de ser uma curta-metragem com referências profundamente atuais, que nos deixa em suspenso durante a descoberta íntima da protagonista, e que marca a estreia de Lucía Aleñar Iglesias no Curtas.
Autoficción
- 6 de outubro às 16h00.
- De Laida Lertxundi, USA, Espanha, Nova Zelanda, 2020, 14 minutos.
O cinema da cineasta basca Laida Lertxundi assenta na premissa de exercitar através das imagens o conflito entre forma e sentimento, tal como a própria o descreve. Autoficción não é excepção. Pedindo o título emprestado a um género literário, esta obra procura estabelecer uma tensão entre os géneros do cinema direto e do cinema de ficção: da luz da Califórnia às gravações na Nova Zelândia, da marcha pelos direitos civis às conversas entre mulheres onde se exploram temas como a maternidade, o aborto, relações ou a ansiedade provocada por constantes mudanças de vida. Um filme onde o verbo irrompe como necessária ferramenta política da vida em sociedade. A presença da cineasta no Curtas Vila do Conde é já habitual e Autoficción permite um novo contacto com a poética das paisagens de Lertxundi, onde a música assume ainda um papel fulcral nesta que é uma combinação do rigor formal e do prazer sensível, através dos quais a autora reflete sobre o seu próprio entorno.
Una película en color
- 6 de outubro às 16h00.
- De Bruno Delgado Ramo, Espanha, Bélgica, 2019, 26 minutos.
O andaluz Bruno Delgado Ramo trabalha entre o cinema experimental, a investigação e a arquitetura, pelo que a visão de quem se debruça sobre questões espaciais na cidade contribui de forma alargada para a realização e compreensão de Una película en color. Na procura de estender ao seu limite as demarcações que o espaço nos pode colocar, este filme foi editado em câmara e filmado em super-8, tendo sido inteiramente filmado dentro de um quarto. Um ensaio espacial onde se joga ainda com os limites e hipóteses do cinema. Trata-se afinal de uma viagem entre paredes onde se testam as possibilidades de um quarto tanto quanto as da câmara de filmar. Una película en color, presente em festivais como Roterdão e S8 – Mostra de Cinema Periférico, marca a estreia do realizador no Curtas Vila do Conde.
Correspondencia
- 6 de outubro às 17h00.
- De Carla Simón e Dominga Sotomayor, Chile, Espanha, 2020, 20 minutos.
Entre a Catalunha e o Chile, duas cineastas partilham imagens, vozes, emoções e sentimentos. Numa troca de correspondência filmada entre Carla Simón e Dominga Sotomayor, são aprofundadas questões em volta do cinema, da família, da maternidade, num registo confessional pontuado por imagens alegres do quotidiano e momentos de privacidade. O aparente descuido técnico e o uso de formatos caseiros e amadores (super 8, vídeo), como se de home movies se tratasse, dão ao filme um tom de diário, reforçando a esfera íntima e pessoal que vai pontuando o diálogo. Até ao momento em que a atualidade interrompe, de forma brutal, esta conversa. O filme passa então para uma esfera política, a violência toma as ruas de Santiago do Chile e sucedem-se confrontos entre forças policiais e manifestantes, desfazendo as ilusões do passado de mudança e de liberdade. Ambas pela primeira vez na competição do Curtas, Carla Simón e Dominga Sotomayor são dois nomes em ascensão no cinema contemporâneo. Simón teve, em 2017, com Estiu 1993, uma das mais elogiadas estreias na longa-metragem do cinema espanhol recente, e Sotomayor tornou-se, em 2018, com Too Late To Die Young, a primeira mulher a vencer em Locarno o Leopardo para a melhor realização.
Diarios del Exilio
- 8 de outubro às 17h00.
- De Irene Gutiérrez, Espanha, 2019, 43 minutos.
Montado a partir de excertos de filmes caseiros, domésticos e familiares em formato 8 mm registados entre 1937 e 1977 por famílias espanholas que viveram no exílio, do norte da Europa à América latina, durante o franquismo, Diarios del Exilio é uma pertinente reflexão de Irene Gutiérrez, em estreia no Curtas, sobre o maior trauma coletivo da história contemporânea de Espanha. Mas esta obra também se reveste de enorme importância documental e histórica, ao preservar e divulgar imagens inéditas de figuras de destaque da oposição republicana, como a comunista basca Dolores Ibárruri, autora do célebre “No pasarán”, o governante basco José Antonio Aguirre, o socialista asturiano Indalecio Prieto ou o poeta Marcos Ana, entre outros. A montagem de Cristóbal Fernández, com a introdução de variações e dinâmicas singulares, também é importante para a valorização de uma narratividade não-verbal, assente sobretudo nos elementos visuais e sonoros.
Homeless Home
- 9 de outubro às 19h45.
- De Alberto Vázquez, França, Espanha, 2020, 15 minutos.
Os filmes do cineasta galego Alberto Vázquez são, ao mesmo tempo, extremamente sombrios e cómicos, como é o caso deste Homeless Home, onde o humor é de um extremo negrume: vários monstros, fantasmas, bruxas, ogres e estranhas criaturas saídas de um pesadelo, vivem num mundo de sombras e sem perspetiva de futuro, aprisionados em vidas sem rumo, recorrendo a drogas e ao álcool para melhor suportar a sua existência. Anseiam por uma vida diferente e por um pouco de amor, mas um sentimento de desesperança paira sobre as suas vidas como uma névoa densa. Neste mundo imaginário que não pertence a qualquer tempo ou lugar, emerge uma fábula sobre a crise económica, social e familiar. O criador de Decorado (prémio para Melhor Animação e prémio do Público no Curtas 2016) confirma-se aqui como um dos mais originais criadores da animação contemporânea, retomando os seus ambientes inquietantes e desoladores para falar de Espanha, de todas essas pequenas vilas e localidades tomadas pelo desemprego, pela pobreza e pela depressão, onde a juventude sobrevive como pode.
Souvenir
- 5 de outubro às 15h00.
- De Cristina Vilches Estella e Paloma Canonica, Espanha, Suiça, 2019, 13 minutos.
Um pai e uma filha lançam-se numa extraordinária jornada pelas suas memórias.
InFocus: Isaki Lacuesta
- La Leyenda del Tiempo, Espanha, 2006, 1h55: 6 de outubro às 19h00.
- Entre dos Aguas, Espanha, 2018, 1h37: 7 de outubro às 21h45.
- La Noche que no Acaba, Espanha, 2010, 1h20: 8 de outubro às 21h45.
- Cravan vs Crava, Espanha, 2002, 1h37: 9 de outubro às 21h45.
New Voices: Elena López Riera
- 5 de outubro às 16h00.
- Más que a mi suerte, Espanha, 2007, 14 minutos.
- Pueblo, Suiça, Espanha, 2015, 27 minutos.
- Las Vísceras, Espanha, França, 2016, 15 minutos.