Like Manolete on the eve of his death de Álvaro Gómez Pidal
O Festival “Encontros da Imagem” de Braga acolhe esta exposição de fotografia no âmbito da “Mostra Espanha 2021”.
Jerusalém, 1948. Na noite de 5 de janeiro, poucas semanas após a votação da separação da Palestina britânica colonial, o hotel Semiramis foi bombardeado. Era um pequeno hotel familiar na área de Qatamon.
O ataque foi perpetrado pela milícia sionista Haganah, que suspeitava que o hotel pudesse servir de esconderijo a comandantes palestinianos. E, apesar de terem encorajado a população local a deixar as suas casas para poderem entrar, a estratégia da milícia Haganah não deu resultado. Muitos civis acabaram por morrer naquele ataque, incluindo o vice-cônsul espanhol Manuel Allendesalazar, o meu tio-avô.
Em junho de 2015, fui convidado para o festival de cinema estudantil de Telavive. Durante uma semana, fui acompanhado numa visita guiada à “Terra Santa”, o que deu origem a um complexo conjunto de perceções que se desenvolveu como um mosaico ao longo de três visitas, entre 2015 e 2017. Através de diferentes técnicas, vários tipos de meios, arquivo, colagem e outros formatos, este projeto explora a experiência pessoal na tentativa de entender o que levou ao assassinato de Manuel, à criação do Estado de Israel e à luta palestina num processo pós-colonial. Combinando presente e passado. A minha perspetiva das viagens e da pesquisa funde-se com os últimos dias de Manuel numa interpretação livre.
Like Manolete on the eve of his death (referindo-se a um famoso toureiro que tinha acabado de falecer) estava ironicamente entre as últimas frases que proferiu. O vídeo é apenas uma amostra que contém algumas das imagens do trabalho final e que inclui a construção de uma maquete do Hotel Semiramis.
31ª Encontros da Imagem
Génesis 2:1 foi o tema escolhido para a 31ª edição dos Encontros da Imagem, Festival Internacional de Fotografia e Artes Visuais, que se realizará entre 17 de setembro e 31 de outubro de 2021. Entre as diversas atividades, o Festival englobará 46 exposições distribuídas por mais de 24 espaços distintos que contam com a participação de 62 fotógrafos.
Nunca um tema escolhido se enquadrou tão bem no contexto que atualmente Portugal e o mundo vivem, neste início da década de 20. Génesis 2:1 dá continuidade ao tema do ano passado. Um ano depois, voltamos também nós e todo o mundo, em resultado da crise pandémica provocada pela Covid-19, de novo, a um confinamento generalizado. Gerou-se a confusão e o caos. Uma incapacidade coletiva para compreender a desordem das coisas, confrontando a humanidade com desafios cada vez mais complexos e exigentes.
A sociedade contemporânea vê-se há muito perante enormes desafios a nível global, desde questões relacionadas com o planeta e com os seus problemas ecológicos (perda da biodiversidade, alterações climáticas: aquecimento e poluição) até às civilizações que o habitam, muitos dos quais geram novas desigualdades e indiferença moral (políticas, religiosas, fronteiras, refugiados, racismo, questões de género e muitas outras. Aquilo a que chamamos progresso não só deixou de coincidir com a humanização do mundo, como pode acabar por ditar o seu fim). Urge encontrar soluções para acabar com as desigualdades e indiferença em relação ao sofrimento de milhões de pessoas.
Impõe-se a pergunta: que futuro nos espera? A crise em que vivemos constitui uma oportunidade para todos nós encontrarmos causas comuns e discutirmos as melhores soluções para o que importa fazer.